Ação humanitária sem precedentes

 

“Conflitos, mudanças climáticas e a Covid-19 geraram o maior desafio humanitário desde a Segunda Guerra Mundial”, alerta o secretário-geral da ONU, António Guterres

    UN Photo

A crise sanitária e humanitária provocada pelo novo coronavírus é algo cuja dimensão total só o tempo nos dirá. Alguns desses efeitos já estão sendo sentidos, e muitos deles deverão ser vividos a curto e a médio prazos. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem alertado para a importância de uma ação consciente e de um esforço coletivo para que se restabeleça a ordem mundial. Segundo esse organismo internacional, é imprescindível que todos caminhem na mesma direção para que 2021 não represente a quebra de avanços ocorridos nas últimas quatro décadas.

Entre as recomendações da ONU, o relatório anual “Panorama Humanitário Mundial”, apresentado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), em dezembro, chama a atenção. Ele mostra que 235 milhões de habitantes no planeta devem necessitar de algum tipo de assistência de emergência no próximo ano, um crescimento de 40% em relação a 2020, número inédito de cidadãos em situação de vulnerabilidade.

E mais: uma em cada 33 pessoas terá de receber ajuda nos próximos meses. Os dados alarmantes não são consequências apenas da Covid-19; eles resultam também de outros desafios globais, como conflitos, migração forçada e efeitos do aquecimento global.


O relatório debruça-se sobre 56 países, com planos específicos para 34 deles, nos quais as condições de vida são ainda mais preocupantes, a exemplo de Moçambique, Colômbia, Venezuela, Ucrânia, República Centro-Africana, Etiópia, Afeganistão, Iêmen e Síria. O Ocha estima que, para amparar 160 milhões de indivíduos que se encontram em situações precárias, será necessária uma verba de 35 bilhões de dólares (29 bilhões de euros), montante bem superior ao arrecadado pela Entidade neste ano, quando conseguiu em ajuda humanitária 17 bilhões de dólares, ou seja, menos da metade da nova meta pretendida.

Em comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou que a “crise está longe de ter acabado”. E completou: “Os orçamentos de ajuda humanitária enfrentam carências graves à medida que o impacto da pandemia global continua a piorar. Juntos, devemos mobilizar recursos e ser solidários nas alturas mais sombrias de necessidade”.

O documento ressalta igualmente que quem já vivia no “fio da navalha” teve seu dia a dia mais pressionado com a Covid-19, em decorrência do aumento dos preços dos alimentos, da perda de rendimentos, da interrupção de programas de vacinação, do fechamento de escolas, do desalojamento e da violência.


Pobreza e fome extrema

Nesse cenário, a fome aguda desponta como um dos problemas mais preocupantes, fragilidade que atualmente atinge 77 milhões de pessoas em 22 países e que poderá chegar, até o fim deste ano, a 270 milhões, uma alta de 82% na comparação com dado anterior à crise sanitária. Segundo o Ocha, “a pobreza extrema aumentou pela primeira vez em 22 anos”, e com ela a falta do que comer. E as previsões são a piora desse quadro em 2021, com mais gente vivendo com menos de 1,60 euro por dia. De acordo com a ONU, os “desdobramentos da pandemia e as alterações climáticas estão afetando seriamente os sistemas alimentares em todo o mundo”.

O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários das Nações Unidas, Mark Lowcock, afirmou que, “se atravessarmos 2021 sem grandes ocorrências de fome extrema, já será uma grande conquista”.

Mesmo se a meta de ações das Nações Unidas — que visa atender 160 dos 235 milhões de pessoas vulneráveis — for cumprida, ainda haverá uma gigantesca lacuna a ser preenchida pela sociedade civil. Portanto, mais do que nunca a Solidariedade e a empatia têm de estar na pauta de todos nós no próximo ano.


Em nosso país, a exemplo de outras nações, o enfrentamento do novo coronavírus tem unido a sociedade civil em diversas áreas, especialmente o Terceiro Setor, que, graças ao apoio da população e de empresas, vem minimizando o sofrimento de milhões de brasileiros. A Legião da Boa Vontade (LBV) é uma dessas organizações que, por meio do trabalho em rede, combate a fome e a pobreza extrema no Brasil, entregando em todos esses meses de crise sanitária mais de 3 milhões de quilos de doações, em forma de cestas verdes e de alimentos não perecíveis, além de kits de limpeza e de higiene.

Seguindo as orientações do Ministério da Saúde, a Superintendência Social da Instituição também criou protocolos para que fosse possível orientar e oferecer apoio emocional a seus atendidos, bem como promover atividades não presenciais durante esse período, por meio de ligações telefônicas e do envio de vídeos (por WhatsApp) e de material impresso.

Tecnologia e trabalho em rede ampliam atividades da LBV

Para 2021, a Legião da Boa Vontade planeja ampliar oportunidades e serviços. Para isso, estrutura, desde outubro de 2020, dois novos departamentos: o de Direitos Humanos e Sociais e o de Educação Permanente (veja detalhes no quadro ao lado). “Eles permitem à LBV chegar a mais comunidades nas diversas regiões do Brasil, principalmente ao Norte e ao Nordeste, onde há maior índice de vulnerabilidade social, aumentando a capilaridade da Instituição”, destaca Antonio Paulo Espeleta, superintendente social da LBV, ao anunciar que a Entidade cobrirá um número maior de localidades do que já abrangia com suas 82 unidades espalhadas pelo território nacional.

Segundo ele, isso só é possível pela transformação que houve durante a pandemia, quando os acessos aos conteúdos on-line cresceram exponencialmente: “As atividades previstas como a disponibilização de cursos à distância diversos, por exemplo, não dependem de estrutura física própria da Instituição para ocorrerem. A LBV pode fazer o acompanhamento, tanto das ações humanitárias quanto dos cursos on-line, utilizando como base unidades próximas ou por intermédio de parcerias que serão ampliadas e fortalecidas”.


Mais do que enfrentar os impactos da pandemia, a iniciativa integra a estratégia da Instituição, que possui status consultivo na Organização das Nações Unidas (ONU), para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável possam se tornar realidade. “É uma forma de deixarmos ainda mais completa a ampla e diversificada ação da Legião da Boa Vontade de combate à pobreza, à insegurança alimentar e às desigualdades sociais. Atualmente, a preponderância da nossa atuação é voltada para as situações preventivas, nós trabalhamos na maior parte dos locais com serviços de convivência e de fortalecimento de vínculos. Com essa nova diretriz, vamos abarcar todas as questões sociais vivenciadas pela população brasileira, no sentido de fazer tanto o trabalho preventivo como o pós-violação, com o dano causado e identificado”, explica a assistente social Rachel Lopes Silva, gestora de Direitos Humanos e Sociais da LBV. 

A área educativa é outra vertente dessa tomada de decisão, pois não há como garantir direitos sem conhecê-los. Por isso, a Instituição vê como prioridade trazer aos vários públicos com os quais dialoga diariamente (trabalhadores da área social, usuários dos serviços, acadêmicos, estudantes de áreas humanas, profissionais autônomos atuantes na Assistência Social, voluntários e líderes de organizações sem fins lucrativos) esse conteúdo, de maneira a atualizar esses atores sociais com o que há de mais moderno e promissor na área, dentro da diretriz de aprendizado continuado.

A pedagoga Regina do Nascimento, gestora do Departamento de Educação Permanente, conta que o cuidado para evitar o contágio da Covid-19 foi determinante para a escolha da ferramenta digital. “No dia 25 de novembro de 2020, foi publicado o primeiro curso introdutório de Política Nacional de Assistência Social na plataforma da Escola Aberta do Terceiro Setor (Eats), já com mais de 400 inscritos nos primeiros 15 dias e uma sala virtual específica para o público do serviço Rede Sociedade Solidária, da LBV, no Rio de Janeiro/RJ. Os mesmos participantes que começaram as aulas presenciais nessa unidade puderam dar continuidade no formato on-line por meio da Eats.”

Ela ressalta que esse é apenas o primeiro de uma série de cursos que serão oferecidos pela Instituição no próximo ano.

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